Ernesto (evaporando na esquina)


Por todos os cantos, eu vi as pessoas se escondendo, aproveitando de todas aquelas substancias, procurando algo que não conseguiam colocar em nenhum outro lugar, eu ouvi palavras de subversão, adulteradas pelo tempo, o radio ligado, ouvi aquele maldito não, seus persistentes provérbios, o velho relógio de ouro opaco esperando suas meninas, estou aqui, vivendo em meio a todos meus pertences e toda autodefesa que eu criei ao longo dos anos, nem sei pra que, porque, pra onde eu fui esses dias que eu me perdi, estive nesses cantos esperando alguém me tirar, mas acabo sempre virando pra parede quando ele me estende a mão, eu não vejo, mas sinto um leve toque, era tarde demais, isso consumia uma boa parte dos meus sentidos, e eu continuo aqui, sabendo que isso sempre passa.

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