Narciso (espoleta)


“Não quero me achar nada... Eu sempre sou dono de tudo e não to te enrolando estou me enrolando... Sutil porem é diferente...” Claro, e que mais ele sabia fazer? O nome dele não rimava com nada legal, ele dizia estar se enrolando, foi isso que eu ouvi? Estava dispersa aquele momento. Mas de propósito, sabia que aquilo não ia dar em um bom momento, então aproveitava para reparar em outras coisas. Naquele momento tentava fazer rima com o nome dele. Roupas, compras. Ao que havia entendido hoje ele não ia sair comigo, tinha algum jogo de futebol marcado. “De boa, cansei”. Falei assim meio sem pensar. Já estava farta dessas desculpas. Acho que ele perguntou “cansou de mim?” e eu não havia cansado dele, mas da sua falta de interesse. “Não é falta de interesse, é medo de me envolver demais, você é muito espoleta pra mim.” Ok. Eu não gosto de homens que se privam e que fazem a barba. Eu só disse não. Era só uma negativa, era só minha rejeição. “Não, porque não? Você quer ser dona de tudo?”

“Ontem à noite disseste que não era difícil, disseste um pouco irônica que bastava começar, que no começo era só fingir e logo depois, não muito depois, o fingimento passava a ser verdade, então a gente ia até o fundo do fundo. Eu te disse que estava cansado de cerzir aquela matéria gasta no fundo de mim, exausto de recobri-la às vezes de veludo, outras de cetim, purpurina ou seda - mas sabendo sempre que no fundo permanecia aquela pobre estopa desgastada."

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