Narciso (talvez)


E se eu contasse da minha forma, cara? Eu entrava no teu carro e permanecia de boca fechada, não porque quisesse o silencio, eu poderia conversar com seus amigos no banco de trás, poderia passar horas e horas juntamente a eles que não me faria mal, o problema é você saca, tive que fazer um puta de um esforço em me manter quieta. Você achou que não era o meu normal, ainda bem que você me conhece um pouco, não, não é nem um pouco meu normal, mas até que foi melhor assim, você perguntou umas três vezes se estava acontecendo algo comigo, meu amigo achou que isso era um demonstração de interesse, eu não achei porra nenhuma. Você poderia ate sair do seu lugar, me abraçar, me pegar no colo e sair correndo por aí que eu não ia achar porra nenhuma. Chegamos depois daquele silencio todo, podíamos ter trocado uma palavra inicial, mas depois você sumiu, eu sumi, não sei o que aconteceu nesse meio tempo, e depois estávamos lá, como no final sempre ficávamos, pelo menos dessa ultima vez, porque alguma coisa dizia que era a ultima, quando entramos no carro novamente, quando você tirou todas aquelas musicas e colocou aquela outra, e quando todos pediram pra você tirar, e quando você continuou tocando. Talvez ainda volte, talvez não. Hoje precisava deixar o tempo passar.

“Talvez aquele menino volte, talvez eu esteja mesmo sozinho, talvez você ache que sou louco. Queria que você entendesse que apenas contei o que realmente aconteceu, e se isso que aconteceu é loucura, quem enlouqueceu foi o real, não eu, ainda que você não acredite. Não tem importância. A história é essa, talvez eu tenha falado mais do que devia, mas tenho uma certeza dura de que nem você nem os outros todos perdem por esperar.”

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